Ref. nº 18

E a propósito destes azulejos em meio-relevo lindos, os quais estou agora a fazer amostras para uma eventual produção de réplicas, recebi esta informação da Divisão de Cultura / Unidade de Património e Museologia da Câmara Municipal de Loures, município onde se encontra o Museu de Cerâmica de Sacavém:

“O padrão em destaque, com uma decoração em semi-relevo, surge no catálogo de “Preços Correntes da Real Fábrica de Louça em Sacavém – Azulejo – Gilman & Commandita / Depósito Geral Rua da Prata, 126 a 132 – Lisboa”, datado de Agosto de 1910, com a referência N.º 18 e as medidas de 15,5cm x 15,5cm. Estava disponível em várias cores de vidrado, por sua vez referenciadas por letras, como por exemplo um dos tons em verde tinha o número 18-D e o tom de creme o número 18-G. Este catálogo reunia e compilava, numa só publicação, todos os padrões produzidos e comercializados pela Fábrica de Sacavém, anteriormente disponibilizados aos comerciantes através de folhas soltas com os desenhos propostos para cada aplicação, tais como revestimento de fachadas, de espaços interiores, arquitraves, entre outras.”

REVIVALISMO

Estou satisfeita com as chacotas que fiz desta réplica de um dos inúmeros azulejos em relevo executados pela extinta Fábrica de Massarelos, em meados do séc. XIX e que, por razões óbvias, podem ser encontrados a cobrir tantas fachadas de edifícios do Porto e do norte do país em geral.

Em laia de curiosidade, descobri agora que estes azulejos em relevo são designados como sendo de produção semi-industrial, uma vez que a tecnologia empregada no seu fabrico era ainda muito próxima à da manufactura e os motivos decorativos tinham um cariz revivalista, inspirado em padronagens e paletas cromáticas utilizadas em períodos anteriores. A repetição de um elemento para formar um módulo de padrão simples e o uso das linhas diagonais foram soluções estilísticas recorrentes nas padronagens pombalinas e o emprego do amarelo e branco provém dos tons característicos da paleta cromática do séc. XVII. É engraçado como nunca tinha pensado nisto antes, mas agora faz-me todo o sentido.

Voltando a estas réplicas e como já disse antes, estou satisfeita com os resultados. Ao contrário dos azulejos originais, os meus foram produzidos totalmente à mão. Estão enchacotados e prontos a entregar, tal como me pediram, para depois serem vidrados como bem o entenderem. Não houve nenhuma baixa, mas alguns deles estão um pouco mais tortos e empenados do que aquilo que eu gostaria; fruto da secagem, com certeza e talvez também do tipo de barro que utilizei. Para a próxima tenho de usar uma pasta com chamote, para evitar este tipo de problemas.

DESAFIO

Estou bastante satisfeita. Chegou-me às mãos, mais uma vez, um azulejo em meio-relevo, da Fábrica de Sacavém, proveniente do átrio e escadaria de um edifício construído em 1914 no Alto de Sto. Amaro, em Lisboa. Ao que parece, o meu trabalho foi-lhes recomendado – obrigada! – e é para eu ver se consigo fazer algumas réplicas que colmatem as lacunas existentes no dito edifício, o qual se encontra em obras de reabilitação.

Disse que não sei se consigo, mas que posso experimentar, para já, fazer umas amostras, para ver se se integram ou não no conjunto azulejar e que depois, face aos resultados obtidos, logo se verá se se avança para a produção ou não.

Tal como aconteceu aqui e aqui, em que tive de produzir manualmente réplicas de azulejos industriais, parece-me que o mais difícil neste caso não se trata da gravação de um modelo, nem da execução do seu molde; o maior desafio para já e à primeira vista, será obter um tom de branco aproximado ao original, o que tem o seu quê de complexo, uma vez que não estamos a falar de um vidrado opaco, mas sim de um transparente, e esta coloração dever-se apenas ao reavivar do tom da pasta utilizada – neste caso, pó de pedra.

Mas vamos com calma; cada coisa a seu tempo. Para já, a modelação de um protótipo. E mal posso esperar por começar.

213

Vidrar e limpar vidrados. 213 vezes até agora. Colocar a primeira estampilha e pintar o laranja, para começar. Ajustar a segunda estampilha sobre a primeira e pintar o rosa. Continuar com o rosa e pintar a terceira estampilha. Passar ao azul; acertar a quarta estampilha com as anteriores e pintar. Seguir para a quinta estampilha; conferir e pintar, ainda de azul. 213 vezes até agora. Verde: posicionar a sexta estampilha e pintar. Permanecer no verde para pintar a sétima estampilha. Finalmente o preto, quase a acabar; rectificar a oitava estampilha com todas as precedentes e pintar. Concluir com a nona estampilha, pintar igualmente de preto. 213 vezes até agora. Enfornar. Desenfornar. Encaixotar.

Recomeçar.

AMARELO E BRANCO

Finalmente consegui ter tempo para retomar o projecto de execução de réplicas de um dos inúmeros azulejos em relevo das fachadas do Porto, proveniente da antiga Fábrica de Massarelos, projecto que ficou parado desde Março e que nessa altura falei aqui e também aqui.

Trata-se da manufactura de uma série de chacotas que a Alba e a Marisa, da Gazete Azulejos, me encomendaram e que serão entregues assim mesmo, sem serem vidradas; mas que eu, claro está, não resistirei em fazer duas ou três a mais para tentar reproduzir os tons dos azulejos originais.

UM METRO QUADRADO

Tenho andado ocupada a pintar réplicas de azulejos da Fábrica das Devesas, para colmatarem as lacunas existentes numa fachada de um prédio em Lisboa. Para já, foram-me pedidos 10m2 e para falar muito francamente, espero que não sejam precisas mais – são 500 unidades no total, executadas manualmente uma a uma.

A produção vai avançando devagarinho, ao meu ritmo; tento fazer entre 12 e 15 unidades por dia, mas ontem, por exemplo, só pintei 6 – tenho de conjugar entre aquilo que consigo e o restante trabalho que tenho em mãos. Para já ainda estou confortável com o prazo, mas não posso dar hipóteses de ter de trabalhar sob pressão – não gosto de o fazer, nunca; mas muito menos neste caso, em que o processo de manufactura é minucioso e portanto, pouco acelerável.

Neste momento tenho cerca de 120 unidades prontas e mais 60 já pintadas e à espera de serem cozidas. Passinho a passinho se faz o caminho.

MOSAICO

E um ano depois do previsto inicialmente, eis que recebo agora luz verde para arrancar com a manufactura de 500 réplicas destes azulejos de fachada para colmatarem as lacunas existentes num edifício de rendimento em Lisboa.

Tratam-se de azulejos industriais de estampilha, com cento e poucos anos, produzidos na extinta Fábrica de Sacavém, em Lisboa, os quais podem ser encontrados igualmente a revestir algumas fachadas no norte do país, uma vez que foram executados também pela desaparecida Fábrica das Devezas, em Vila Nova de Gaia.

Curiosamente e graças ao meu amigo Fábio Carvalho, autor do blog Azulejos Antigos no Rio de Janeiro , que me mostrou o livro Las Azulejerías de La Habana, Cerámica Arquitectónica Española en América, onde este padrão aparece apelidado como “Mosaico”, descobri que estes azulejos têm influência espanhola – em finais do séc. XIX foram produzidos pelo menos em três fábricas na zona da Valência – e podem ser encontrados como revestimento cerâmico exterior não só em Portugal e Espanha mas também em Cuba, chegando até mesmo a haver um exemplar em exposição no Museu do Azulejo de Montevideu, no Uruguai.

MEIO-RELEVO

Acabei ontem a produção das réplicas de azulejos e frisos em meio-relevo, da antiga Fábrica de Sacavém, que me foram pedidas para o revestimento de uma pequena fachada em Olhão – 200 azulejos e 100 frisos, feitos de raiz, totalmente à mão, um a um.

A execução de um protótipo foi bastante complexa e teve de ser executada através de um positivo e de um negativo e não sei como, porque nunca me aconteceu, enganei-me várias vezes sempre no mesmo ponto e por várias vezes troquei côncavos com convexos e convexos com côncavos  e por várias vezes tive de repetir o molde até chegar a um azulejo com um relevo semelhante ao dos originais.

A manufactura de chacotas foi morosa, o barro que utilizei seca facilmente e é difícil de amassar e mais uma vez desejei ter uma pequena fieira que me ajudasse nesta tarefa. Cada unidade foi prensada manualmente e a sua secagem foi vigiada com cuidado, a fim de minimizar o mais possível os empenos naturais deste processo de fabrico e de aproximar o seu aspecto ao das industriais, completamente planas, impecáveis.

Os vidrados também tiveram o seu quê. Para além dos tons, que não foram fáceis de encontrar e estando a falar de vidrados transparentes, altamente fundíveis, aplicados sobre um relevo, convém que integrem na sua composição um elemento estabilizante que lhes aumente a viscosidade de modo a que se mantenham fundidos sobre a peça sem escorrer. Foram realizados inúmeros testes em busca dos tons exactos e da consistência perfeita; inúmera esperança e desilusão, sendo que com esta última acrescenta-se ainda dois dias a descontar no prazo de entrega da encomenda.

Depois, a vidragem. Os vidrados foram aplicados manualmente, com pêra de borracha, um a um, tom por tom; primeiro o fundo, depois os relevos, com cuidado para não borrar, raspando ora aqui, ora ali; foi pela via mais difícil, de certeza que não foi assim que fizeram isto originalmente, mas na verdade não faço a mínima ideia de como é que fizeram isto originalmente, sendo um processo industrial, em que não se perdia tempo com estes preciosismos.

Ontem cozi os últimos 60 azulejos que faltavam, todos aqueles que precisaram de levar retoques e cozerem uma segunda vez. Amanhã saem do forno, espero que esteja tudo bem. Não estão perfeitos, mas não consegui melhor. Agora quero vê-los na parede.

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TESTES DE COR

Tenho andado atrapalhada a fazer testes de cor para passar à fase final da manufactura das 300 réplicas de azulejos em meio-relevo que me foram pedidas para revestir uma pequena fachada em Olhão.

As chacotas estão todas feitas e neste momento mais de metade está já cozida, sendo que as restantes estão ainda em fase de secagem, quase secas. De momento o que me preocupa – mentira; preocupou-me sempre, desde o início do trabalho -, é a fase da vidragem e não estou a falar apenas da obtenção das cores, que já de si também não são assim tão lineares; refiro-me sobretudo à técnica de vidragem, ao modo como deverei aplicar o vidrado sobre a chacota afim de conseguir uma camada vítrea transparente assim tão fluida, e que de certeza não será igual ao processo de fabrico original, visto que estou a falar de azulejos industriais, os quais estou a tentar reproduzir à mão, 300 unidades, um a um, o mais fielmente que conseguir.

Assim sendo, tenho já aqui testes para todos os gostos e feitios; cores mais vibrantes, cores menos vibrantes, vidrados aplicados à trincha, com pincel e com pera de borracha, por mergulho, por mergulho e acabamento a trincha; vidrados sobre vidrados, pigmentos por baixo de vidrados; enfim, uma parafernálea  de experiências que servem acima de tudo para criar expectativas e alguma frustração ao abrir o forno, até se ter uma outra ideia, que certamente irá resultar e então, começar tudo do novo.

Para dificultar a coisa tenho comigo apenas um exemplar, quer do padrão, quer do friso, o que me limita o trabalho, pois fico obcecada com a obtenção daquele resultado, tendo a certeza de que se tivesse mais originais comigo também eles variariam entre si.

Isto tudo para dizer que hoje fiz mais um teste que está agora a cozer e cujo resultado vejo amanhã – espero que seja o último, pois o prazo de entrega começa a apertar e tenho de avançar rapidamente para a produção.

 

 

DESCONFINAMENTO

Após alguma ginástica para conseguir gerir a execução do molde – enganei-me quatro ou cinco vezes!!! – com o confinamento obrigatório e os colegas de trabalho aqui da oficina, mais a produção dos azulejos e a falta de materiais no fornecedor, mais a secagem e a humidade que se fez sentir no mês de Abril, tenho finalmente cerca de sessenta azulejos prontos a serem enchacotados. São duzentos e dez, no total; felizmente já há barro e o trabalho pode continuar.