REVIVALISMO

Estou satisfeita com as chacotas que fiz desta réplica de um dos inúmeros azulejos em relevo executados pela extinta Fábrica de Massarelos, em meados do séc. XIX e que, por razões óbvias, podem ser encontrados a cobrir tantas fachadas de edifícios do Porto e do norte do país em geral.

Em laia de curiosidade, descobri agora que estes azulejos em relevo são designados como sendo de produção semi-industrial, uma vez que a tecnologia empregada no seu fabrico era ainda muito próxima à da manufactura e os motivos decorativos tinham um cariz revivalista, inspirado em padronagens e paletas cromáticas utilizadas em períodos anteriores. A repetição de um elemento para formar um módulo de padrão simples e o uso das linhas diagonais foram soluções estilísticas recorrentes nas padronagens pombalinas e o emprego do amarelo e branco provém dos tons característicos da paleta cromática do séc. XVII. É engraçado como nunca tinha pensado nisto antes, mas agora faz-me todo o sentido.

Voltando a estas réplicas e como já disse antes, estou satisfeita com os resultados. Ao contrário dos azulejos originais, os meus foram produzidos totalmente à mão. Estão enchacotados e prontos a entregar, tal como me pediram, para depois serem vidrados como bem o entenderem. Não houve nenhuma baixa, mas alguns deles estão um pouco mais tortos e empenados do que aquilo que eu gostaria; fruto da secagem, com certeza e talvez também do tipo de barro que utilizei. Para a próxima tenho de usar uma pasta com chamote, para evitar este tipo de problemas.

213

Vidrar e limpar vidrados. 213 vezes até agora. Colocar a primeira estampilha e pintar o laranja, para começar. Ajustar a segunda estampilha sobre a primeira e pintar o rosa. Continuar com o rosa e pintar a terceira estampilha. Passar ao azul; acertar a quarta estampilha com as anteriores e pintar. Seguir para a quinta estampilha; conferir e pintar, ainda de azul. 213 vezes até agora. Verde: posicionar a sexta estampilha e pintar. Permanecer no verde para pintar a sétima estampilha. Finalmente o preto, quase a acabar; rectificar a oitava estampilha com todas as precedentes e pintar. Concluir com a nona estampilha, pintar igualmente de preto. 213 vezes até agora. Enfornar. Desenfornar. Encaixotar.

Recomeçar.

AMARELO E BRANCO

Finalmente consegui ter tempo para retomar o projecto de execução de réplicas de um dos inúmeros azulejos em relevo das fachadas do Porto, proveniente da antiga Fábrica de Massarelos, projecto que ficou parado desde Março e que nessa altura falei aqui e também aqui.

Trata-se da manufactura de uma série de chacotas que a Alba e a Marisa, da Gazete Azulejos, me encomendaram e que serão entregues assim mesmo, sem serem vidradas; mas que eu, claro está, não resistirei em fazer duas ou três a mais para tentar reproduzir os tons dos azulejos originais.

UM METRO QUADRADO

Tenho andado ocupada a pintar réplicas de azulejos da Fábrica das Devesas, para colmatarem as lacunas existentes numa fachada de um prédio em Lisboa. Para já, foram-me pedidos 10m2 e para falar muito francamente, espero que não sejam precisas mais – são 500 unidades no total, executadas manualmente uma a uma.

A produção vai avançando devagarinho, ao meu ritmo; tento fazer entre 12 e 15 unidades por dia, mas ontem, por exemplo, só pintei 6 – tenho de conjugar entre aquilo que consigo e o restante trabalho que tenho em mãos. Para já ainda estou confortável com o prazo, mas não posso dar hipóteses de ter de trabalhar sob pressão – não gosto de o fazer, nunca; mas muito menos neste caso, em que o processo de manufactura é minucioso e portanto, pouco acelerável.

Neste momento tenho cerca de 120 unidades prontas e mais 60 já pintadas e à espera de serem cozidas. Passinho a passinho se faz o caminho.

MOSAICO

E um ano depois do previsto inicialmente, eis que recebo agora luz verde para arrancar com a manufactura de 500 réplicas destes azulejos de fachada para colmatarem as lacunas existentes num edifício de rendimento em Lisboa.

Tratam-se de azulejos industriais de estampilha, com cento e poucos anos, produzidos na extinta Fábrica de Sacavém, em Lisboa, os quais podem ser encontrados igualmente a revestir algumas fachadas no norte do país, uma vez que foram executados também pela desaparecida Fábrica das Devezas, em Vila Nova de Gaia.

Curiosamente e graças ao meu amigo Fábio Carvalho, autor do blog Azulejos Antigos no Rio de Janeiro , que me mostrou o livro Las Azulejerías de La Habana, Cerámica Arquitectónica Española en América, onde este padrão aparece apelidado como “Mosaico”, descobri que estes azulejos têm influência espanhola – em finais do séc. XIX foram produzidos pelo menos em três fábricas na zona da Valência – e podem ser encontrados como revestimento cerâmico exterior não só em Portugal e Espanha mas também em Cuba, chegando até mesmo a haver um exemplar em exposição no Museu do Azulejo de Montevideu, no Uruguai.